terça-feira, 31 de março de 2009



QUEM SÃO NOSSOS EXEMPLOS?

Um exemplo de persistência e de luta.
Após problemas no joelho, tratamento demorado, dor, falta de esperança, o retorno.

Não!

Não estou falando de nenhum jogador muito bem pago, freqüentador de baladas e continuamente alvo de encândalos.
Não estou falando de um jogador que contrata especialistas em recuperação de imagem.
Não estou falando também de um jogador que, ganhando milhões entre contrato e campanhas de marketing, decide doar um caminhão de cesta básica e, para isto, usa os veículos de comunicação para divulgar sua “solidariedade" (ou seria propaganda gratuita?).
Não estou falando de um homem que troca de mulher como quem faz um passe no gramado.

Exemplo de persistência e de luta é o da minha mãe.
Venceu as dificuldades de ter nascido na roça, passar a infância nas plantações de café e algodão ou cuidando dos irmãos menores.
Vindo para São Paulo, não invandiu terreno público para construir sua casa, não ganhou bolsa família, cesta básica. Nada!
Trabalhou, teve duas filhas e lutou contra todas as dificuldades de trabalhar e estudar depois que essas filhas cresceram.
E trabalhou muito bem.
Venceu doenças: úlcera estomacal, anemia profunda, cirurgia na mão, cirurgia no joelho e até um câncer.
Mas não apareceu na mídia.

Outro exemplo: José Alencar, nosso vice-presidente.
Não entendo nada de política, mas tenho certeza de que este senhor é um exemplo de luta. Com idade já avançada, não teve medo de uma cirurgia complicada. Inclusive era o responsável por dar ânimo à equipe médica. Como disse ao Fantástico: “ Eu não tenho medo da morte, tenho medo de perder minha dignidade.”
Posso estar sendo ingênua, mas pareceu-me palavras sábias ditas com o coração e por alguém que realmente acredita na decência.

Há alguns anos Xuxa foi escolhida como mãe do ano. Como mãe do ano?
E aquela mãe que mora no sertão, que precisa cuidar de 13 filhos, quase sem comida, sem água, sem casa? Esta seria então a mãe do milênio?

Não pretendo ser a moralista, mas as coisas mudaram bastante nos últimos anos.

Nada contra mães solteiras, mas ainda acredito na família, numa sociedade feita por famílias, com crianças crescendo com seus pais e mães.

Se essas crianças estão piores? Pergunte a qualquer professor.

Que exemplo de conduta estamos deixando para as crianças seguirem? Que pessoas estão sendo os heróis para nossos filhos?

domingo, 29 de março de 2009

Carta Desabafo - Denilson Shikako

Acabei de colocar uma placa em frente a Fábrica de Criatividade: vende-se este sonho.
E o pior que não é retórica, nem uma ação de marketing, nem nada que não seja apenas a realidade.
Eu investi minha vida neste espaço que hoje é de mais de 20 mil pessoas (isto mesmo 20 mil!) que passaram e passam por aqui. Eu investi todo o meu dinheiro, eu investi todo o meu tempo nos últimos 10 anos, eu investi todos os meus contatos, os meus recursos, as minhas ferramentas, o meu conhecimento, eu investi todos os meus sonhos, eu investi tudo, para no final acabar em uma simples plaquinha.
É mais do que frustrante, é mais do que triste, é mais do que revoltante...é incabível e eu não posso me conformar.

Não há uma só pessoa que não tenha conhecido pessoalmente a Fábrica de Criatividade que não tenha no mínimo se encantado. Quer seja por sua arquitetura, quer seja por sua proposta, que seja por sua história, quer seja por suas pessoas, quer seja por seus resultados.
A Fábrica de Criatividade está seriamente comprometida com a sua sustentabilidade, e mesmo existindo oficialmente há menos de três anos, já conseguimos grandes avanços nesta área. Hoje, a Fábrica "custa", por mês, algo em torno de R$ 47 mil. Até o ano passado, tínhamos o patrocínio das minhas empresas pessoais (e que por isso, inclusive, hoje estão no vermelho), do Instituto Hedging-Griffo (no 1º semestre), e também o apoio pontual e pequeno, para algum evento específico ou projeto, de algumas empresas e pessoas físicas. A Hedging-Griffo perdeu muito dinheiro com a crise que abateu o mundo, no final do ano passado, com isso, eles cancelaram os apoios que davam a projetos sociais, incluindo o nosso. Ainda assim, conseguimos atender quase o nosso potencial máximo (que é de 1000 alunos) no ano passado, além de mais de 6 mil pessoas que vieram nos eventos culturais gratuitos que aconteceram em praticamente todos os finais de semana de 2008. Eu acredito piamente que a Fábrica no médio e longo prazo consiga plenamente ser totalmente auto-sustentável tanto por causa das parcerias com o setor privado e público (que o projeto por ter menos de 3 anos oficialmente, só agora conseguiu alguns documentos que precisavam deste tempo para serem emitidos) como através dos produtos gerados pela própria Fábrica, (anexo você encontrará também nosso projeto de auto-sustentabilidade dentro de ‘institucional’), o problema é que a situação financeira atual simplesmente não permite que a gente possa esperar o médio e longo prazo.
Olhando para a plaquinha em frente a este prédio que se destaca na paisagem triste e cinzenta do Capão Redondo eu me questiono, inconformado...Como pode um espaço completamente inovador, pioneiro, com uma proposta pedagógica, política e social completamente embasada nas melhores teorias e práticas, planejada cuidadosamente, estruturada em um bairro onde moram mais de 300 mil pessoas carentes e sedentas pelo que oferecemos e onde praticamente inexistem espaços como este, não ter patrocínio?
Como um lugar já validado por quase todos os meios de comunicação (SPTV, TV Xuxa, Programa Ação - Serginho Groissman, Antena Paulista, Revista Veja SP, Jornal Folha de São Paulo, Estado de São Paulo, Jornal da Tarde, Rede Record, SBT, Gazeta, Band, Cultura, Revista Educação, Empreendedor, Claudia, Portal Uol, Terra, e mais um monte de mídias já fizeram matérias altamente positivas sobre a gente) e também validado pela comunidade que está a nossa volta e outras instituições como o UNICEF que já nos escolheu como sede em algumas discussões sobre o terceiro setor... como pode um lugar tão conceituado e validado ter que ser vendido por não conseguir um mísero patrocínio?
Como deixar que um local que vem oferecendo eventos culturais gratuitos tão maravilhosos como por exemplo um espetáculo de dança envolvendo uma parceria inédita o Balé da Cidade do Teatro Municipal com alunos bolsistas de dança contemporânea da Fábrica no meio de um campo de várzea no meio do Morro do Piolho, com centenas de pessoas assistindo de suas "janelas-camarotes" e se emocionando com algo inédito que transcende a razão? Como conceber que oportunidades como esta de acesso à cultura, de abertura de um novo mundo, talvez nunca mais ocorram para esta população?
Como aceitar que um projeto de democratização cultural provado tão eficaz ao ponto de no início ter necessidade de várias tentativas de propaganda para que as pessoas viessem até a Fábrica para assistir as exibições de cinema, saraus, recitais, shows de música, espetáculos de teatro, exposições, vernissagens, espetáculos de dança contemporânea, hip-hop, grafite, jazz, formações de grupo como a orquestra de sucata, tucboys, diversidança, freestyle ds, festa culturais e hoje simplesmente as pessoas vêm, como que naturalmente, para algo que qualquer um pode perceber que é libertador, vivo, real, que é a arte e a cultura de quem faz, de quem é protagonista....como pensar que uma prática assim não tenha mais recursos pra funcionar?
Como podem deixar de existir histórias como a de Junior Silva, morador da favela do Jd Amália no Capão e um dos "quase" caçulas de uma família com 21 irmãos, que no alto dos seus 18 anos, recém contratado por uma empresa que a Fábrica indicou, fala: "A Fábrica me deu uma coisa que ninguém nunca mais vai tirar: a vontade de sonhar, de acreditar, de ter esperança, hoje eu acredito que eu mesmo posso fazer uma mudança real na minha vida, da minha família, dos meus amigos e da minha comunidade, hoje eu sei que eu quero isso que eu tenho pra todo mundo... e é isso que eu vou fazer" ou então de Cleiton Silva que era ajudante de pedreiro na época da construção da própria Fábrica e depois virou aluno e hoje é o Gerente Operacional e futuro professor de piano: “A Fábrica é literalmente tudo pra mim: Sonho, prática, realidade”, a aluna de teatro Valéria Ribeiro acabou de passar aqui na minha sala e falou: "Aprender aqui, é aprender a pensar, interagir e modificar o meio em que se vive. Nós aqui, não aceitamos passivamente as decisões, mas ajudamos a construí-las”. Ou ainda, a fala de Maria, mãe de um dos alunos presente em um dos nossos eventos: "...isto aqui é mais do que um centro de educação e lazer, é uma fábrica de sonhos"... Como ficar calado quando um lugar com histórias assim esteja acabando por falta de recursos financeiros?
Eu sonhei alto e realmente achei que um projeto que tivesse uma sede própria, completamente lúdica, intrigante e funcional, que tivesse um projeto escrito, planejado e de alta qualidade, que tivesse um pessoal altamente capacitado, gabaritado mas principalmente apaixonado pelo que faz, e que se juntássemos a isso a carência, a necessidade, a aceitação e a aprovação de toda a comunidade, do setor público (como a Lei Rouanet aprovada por exemplo e o PAC ICMS e o FUMCAD em vias de aprovação), dos meios de comunicação, e de todas as pessoas envolvidas no processo, enfim, com tudo isso, que seria impossível o projeto não ser facilmente auto-sustentável, patrocinado e um símbolo de um novo paradigma no terceiro setor. Não só eu, mas toda a equipe de profissionais que investiram cada minuto, energia e recursos nos últimos 3 anos neste projeto sonhamos e arregaçamos as mangas para fazer este sonho acontecer, acreditando incansavelmente que era possível. Mas nós estávamos errados. Será?
E não me venha falar de crise. Crise é ficar assistindo televisão o dia inteiro ou então consumir drogas porque não há outra coisa para se fazer depois da escola. Crise é você ter 17 anos e já ter 3 filhos porque nunca ninguém se preocupou em te educar mas sobretudo em te dar perspectivas. Crise é o seu exemplo ser o cara que tem o tênis da moda porque entrou cedo para o tráfico e vai morrer ou ser preso na média com 19 anos. Crise é você não querer estudar, trabalhar, ter carreira ou sonhar, porque percebe que tudo e todos a sua volta nunca tiveram algo que motivasse a sua inspiração, a sua gana, a sua ambição. Crise é você simplesmente não ter esperança que dá sim para se ter um mundo melhor e isto se consegue com educação, cultura, arte, cidadania. E não falo aqui de situações hipotéticas. Falo da crise que já vi acontecer na vida de muitas crianças e jovens das comunidades com que estou envolvido nos últimos 10 anos de trabalho com populações em risco social, histórias que já vi se repetindo bem mais vezes do que eu gostaria de ver, e que ajudamos a evitar com o estabelecimento da Fábrica. Crises que voltarão a acontecer caso essa placa de "vende-se" continue ali na frente.
Alguma coisa tem que estar mesmo muito errada no mundo quando não há dinheiro para investir em um projeto que claramente está dando resultados evidentes e crescentes na área educacional e social, enquanto há mais de U$800 bilhões sendo injetados em empresas de capital financeiro, bancos, corretoras e congêneres. Alguma coisa está muito invertida e equivocada quando se fala em lucros recordes de bancos nacionais, na expansão do mercado de alto luxo, no aumento de salário de deputados, na existência de mais de 36 mil pessoas físicas só em São Paulo com mais de R$ 1 milhão aplicados em contas investimento e não se consegue R$ 47 mil por mês para um projeto social modelo e de grande abrangência numa das áreas mais populosas e carentes da mesma cidade.
Enfim, a sensação de impotência é a mesma que eu senti quando há 9 anos cheguei em casa e descobri que meu pai tinha sido morto por 5 motoqueiros que simplesmente o abordaram no farol e como ele não parou, eles atiraram. A partir disso eu achei que realmente alguma coisa muito errada estava acontecendo e que talvez eu, dando o meu melhor e juntando gente disposta a dar e ser o melhor possível poderia fazer, quem sabe, um Capão Redondo diferente, uma São Paulo diferente, um Brasil diferente, um mundo diferente. Utopia? Nós achamos que não, mas infelizmente, com o 'infelizmente' mais triste que eu já senti, estou vendo que talvez tenha idealizado o impossível, pois quando um projeto que precisa de R$ 47 mil por mês pra fazer a diferença para mais de mil pessoas e inspirar e mudar o paradigma de sabe-se lá mais quantas, tem que parar, penso que o mundo está tão cheio de valores errados a ponto de que um sonho realmente as vezes tenha que se contentar em ser um sonho, utópico sonho construído com histórias lindas, mas que terminam aqui.
Obviamente muitas pessoas não só acreditaram como investiram no projeto. Cito aqui o Junior e o João Madeira do Afroreggae que mesmo com o projeto completamente engatinhando lá no seu inicio nos deram fôlego e inspiração pra continuar, ou da nossa "fada-madrinha" Bitoca Nascimento que literalmente vestiu nossa camisa nas situações mais difíceis, ou ainda a Silvia Morais do Instituto Hedging Griffo; a família da Dani Fainberg e o pessoal do Instituto Geração; a família da Silvana Brito; a minha mãe, tia, irmã e cunhado; a Renata, Fabiana e Nora da Atuação Social; a Suzi e a Gabi da Natura; Cris Morales; a produção do TV Xuxa; a direção do Mercado Livre Brasil; o jornalista Gilberto Dimenstein; Andre Skaff, Joana Rudiger, Joao Carlos Silva, Ronaldo Kolozuk, Sylvio Gomide, Lyto da Drywash, o Marcelo Vit e o Levy, Gisely Cordeiro, Elaine Dominic, Angela Rios, Osni Diniz, Tuca Dias, Marlon Alvarenga, Carlos Rossi, Abraão Dantas, Rosana Sperandeo, Cristiane Verderesi, Cecilia Rosa, Luciana Vincenzo, Flavio Jacobsen, Marilena Borges, Flavia Souza, Sidney Santos, o pessoal da LegoEducation, da Condor, da Solvi e da Giroflex e o núcleo administrativo gestor mais comprometido e apaixonante que já existiu (Felipe Junior, Cleiton Silva, Eliana de Castro, Mafe Carmo, Gal Martins, Elaine Garcez), graças a todos esses, as muitas conquistas que tivemos (que não foram poucas) aconteceram. Quiçá o mundo fosse feito somente de pessoas assim, que cartas como estas nunca precisariam ser escritas e projetos como o nosso seriam a regra e não a exceção.
Pensei muito antes de escrever essa carta e senti vergonha. A Fábrica é justamente uma alternativa ao assistencialismo e um convite ao protagonismo. Não queremos pedir dinheiro, queremos vender um produto de mudança social. É isso que temos feito pelas pessoas que participaram do projeto nestes três anos e é isso que temos feito enquanto coordenadores e professores na direção cuidadosa do mesmo. É isso que sabemos e queremos fazer. É para que isso não pare de acontecer que você está lendo essa carta. É porque eu ainda acredito que seja possível trocar essa placa aqui na frente de "Vende-se esse sonho" por aquela para a qual a Fábrica foi feita: "Aberta para todos os sonhos".

Grande abraço,
Denilson Shikako
Diretor - Fábrica de Criatividade
www.fabricadecriatividade.com.br
Tel (11) 5511-0055 / Cel (11) 8516-5983

Nome do Blog

Muito difícil um nome que expresse por completo o que está dentro da gente.
Depois de escolher o que talvez seria perfeito, alguém já teve a idéia antes.
Então pensei: Pensar coletivo... não que eu pense sempre no coletivo. O ser humano é egoísta por natureza e eu não sou diferente. Mas tento ser, tento mudar.
Mas a idéia é expor as idéias, fazer pensar, expor o que se pensa.
Receber críticas e, por que não, também complementos.
Afinal, estamos sempre aprendendo.

Silvana